sábado, 14 de fevereiro de 2009

E MAIS POESIA

Soneto clássico é aquele com quatorze versos decassílabos, onde a rima segue o padrão abba: o primeiro verso rima com o quarto, o segundo com o terceiro. Clássico de truz foi JOSÉ ALBANO(1882-1923), de quem hoje muito poucos se recordam, mas que deixou grande e apreciada obra poética. Nascido no Ceará, de família tradicional, pode fazer o percurso dos bem-aventurados: Foi mandado pela família para a Europa, de onde retornou para a sua tradicional e provinciana Fortaleza dono de uma profunda erudição fornecida nos colégios dos jesuítas e de um escandaloso e soberbo monóculo, que logo o fizeram motivo de remoques. Dos quais se viu vítima em Europa, França e Bahia: vivia em total desacordo com os tempos, suspirando pela arcádia clássica e pelo lácio remoto, onde com certeza viveria "tendo direito ao néctar", o qual tinha a certeza os poetas usufruíam. Entre as várias formas que cultivou sobressaem-se diversos sonetos clássicos, recuperados por ninguém menos que Manoel Bandeira, que foi o responsável pelo aparecimento dos seus versos em coletânea editada nos anos 40 e relançada em 1993,com vários estudos críticos e testemunhos de contemporâneos, pela Graphia Editorial. Vejam:
"Amor que imaginei, mas nunca tive,
Tão doce enlevo e tão cruel tormento,
Por tua causa choro e me lamento,
Sem que às dores duríssimas me esquive.
Aquele antigo sonho que ainda vive
Neste meu coração triste e sedento
E, posto que me seja sofrimento
Imploro ao Céu que dele me não prive
Bem, que a males perpétuos me condenas,
Sem a tua presença pura e mansa
As horas vão e vêm, mas não serenas.
De tanto padecer o peito cansa.
Mas entre mil torturas e mil penas
ainda permanece uma esperança."
(José albano, 1918)
Sem dúvida o metro a medir-lhe as estrofes seria Camões!

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