domingo, 22 de março de 2009

QUEM SABE SE ASSIM DÁ CERTO?
DESDE QUE chegaram, os europeus classificaram os índios em dóceis e bravios. Os primeiros eram aqueles que podiam ser usados para trabalho braçal(ao qual o homem em geral tem horror); os segundos, os que não "cooperavam" e reagiam com violência ao que afinal, era uma violência enorme contra eles.
VAI DAÍ que até hoje os índios são assim divididos: os que procuram imitar o homem branco e viverem de forma o mais possível semelhante, são os que podem se "salvar": os outros (cada vez em menor número) resistem e procuram se esconder do contágio, pois percebem que por trás está a morte do seu mundo.
ENTRETANTO a cultura indígena nas três américas é bem mais antiga que o nosso mundo cristão ocidental. Se contarmos a partir do triunfo da burguesia - que para mim coincide com a Revolução Francesa - nosso modo de viver a vida e de enxergar o mundo é recentíssimo, nem três séculos ainda completou.
ENQUANTO QUE os selvagens levam a vida mais ou menos da mesma maneira século após século, nós, nesse curtíssimo espaço de tempo, fizemos tantas e tantas asneiras, nos reproduzimos de forma tão delirantemente irresponsável, usamos com tal prodigalidade os limitados recursos naturais, que agora colocamos em risco a própria sobrevivência da espécie humana.
ENTÃO FIQUEI imaginando que, no lugar de desejarmos que os índios adotem o modo branco de viver, que sabe não é hora de nós nos despirmos disso que chamamos "civilização" (roupas inclusive) e passarmos a perceber o mundo e nele vivermos de maneira indígena? Claro, não vai ter acumulação de capital, bolsa de valores, notebook e muito menos shopping. Será que aguentaríamos? E nem mencionei a novela das oito...

segunda-feira, 9 de março de 2009

MEU DEUS, LÁ VEM ELES ! (V)
Um pouquinho da história de nosso correspondente de guerra, o soldado Richshoffer (*): nasceu em Strasburgo, em 15 de fevereiro de 1612. O Mundo que o recebeu tinha acabado de deixar de ser quase inteiramente espanhol - primeiro império "onde o Sol nunca se põe" - e via emergir a Inglaterra, aliada dos Países Baixos, mas ainda não fazendo sombra ao poder que aos poucos se acabava. Apesar de ser um império em decadência, governada por um rei fraco e doentio (Felipe III), a Espanha ainda era a maior potência do planeta. Lutava-se desde 1568 na Holanda (onde os protestantes mais rapidamente tinham conquistado corações e mentes) e continuava-se a lutar quando, aos dezesseis anos (1628), nosso herói resolve "com alguns bons camaradas adiante mencionados, empreender uma viagem à Índia Oriental, e achando-nos seis meses mais tarde, na feira da Páscoa de Francfurt, partimos para realizá-la." Ora, como o ponto de partida devia obrigatóriamente ser Amsterdam, para lá se dirigiram Ambrósio e seus amigos: "descendo o Reno chegamos em paz a Amsterdam, não sem termos, durante o caminho, corrido grande perigo de corpo e vida, por causa das guarnições espanholas que ainda existiam em vários lugares."
Eram tempos complicados e a maneira mais fácil de cuidar da sobrevivência, para quem não tinha de quem herdar, era mesmo virar soldado. Guerras não faltavam: além da já mencionada Holanda X Espanha, esta última guerreava nos mares a Inglaterra, na diplomacia a França e ao Vaticano remetia fortunas. Ambrósio, conforme seu relato, uma vez que não conseguiu ir para a Índia Oriental, alistou-se na Companhia das Índias Ocidentais, que abrira recrutamento visando a conquista do Nordeste brasileiro, cujo "proprietário" era justamente a Espanha, "dona" de Portugal.
E assim começou sua carreira militar: desfiles pelas ruas de Amsterdam "com as bandeiras desfraldadas" e, para seu imenso gáudio, o adolescente desfila como porta-bandeira da tropa, "não que o merecesse, mas, porque entre todos era o mais vistosamente trajado, e levava ao lado uma espada prateada e no chapéu belas plumas de cores de laranja, branca e azul." Imagino as neerlandezinhas sacudindo as trancinhas louras e aplaudindo nosso guapo herói: a glória!
(*) A mbrósio Richshoffer foi um soldado holandês que participou da tomada de Pernambuco com dezoito anos e deixou um relato precioso sobre esses sucessos, publicado sob o título "Diário de Um Soldado da Companhia das Índias Ocidentais" Ed. IMBRASA/MEC, 1978

sábado, 7 de março de 2009

VIVER TEM SENTIDO?

Qual é mesmo o significado da vida? De onde viemos, para onde vamos? Quem somos nós? Seres especiais, diletos filhos de alguma inescrutável divindade? Frutos de uma série de acasos, coincidências e fortuitidade sem a menor importância em um Universo inimaginavelmente amplo e complexo? Cartas para a redação...
Mas seja qual for seu palpite ou caso exista uma fé que lhe sirva de esclarecimento e apoio, preste atenção na imagem ao lado: foi publicada em uma extinta revista sobre psicologia há muito tempo, e desde então venho tentando entender seu evidente enigma. Não cheguei a conclusão alguma, mas hoje ela me parece dizer: mais importante que o princípio e o fim é a jornada em si mesma; aproveite-a e aprecie a vista!

FALANDO SÉRIO - II

INDECÊNCIAS (Continuação) - Aquele escritor mineiro cujo nome é defeso de ser publicado sob pena de severas consequencias que nem ouso imaginar, foi alvo de um belo estudo do escritor Alaor Barbosa, desde sempre um aficcionado da literatura do ...... do mineiro. De sua parte, Alaor foi então alvejado por um cartapácio jurídico-escalafobético arremessado pela filha do homenageado e pela editora, ambas alegando-se detentoras dos "direitos autorais" sobre qualquer coisa que venha a ser escrita sobre Guim...., digo, o autor. Que aliás foi alvo de especiais homenagens aqui e alhures, por conta do centenário de seu nascimento no ano passado. Alaor, que é um mineiro aprimorado ou seja, um goiano da cidade de Morrinhos, está aguardando o pronunciamento final da justiça. Enquanto isso seu livro encontra-se preso. Pelo menos não foram, autor e livro, submetidos a um auto-de-fé, com direito à fogueira e toda aquela velha presepada dos "homens honrados" desse velho e matreiro mundinho de Deus...

sexta-feira, 6 de março de 2009

F A L A N D O S É R I O

INDECÊNCIAS - Segundo o Bispo Ussher, Deus criou o mundo no dia 23 de outubro de 4004 AC. 570 anos depois do nascimento de Cristo veio ao mundo Maomé, que aglutinou as diversas tribos e nações árabes sob uma única crença: De lá para cá os mundos cristão e muçulmano entredevoram-se ritual e cotidianamente. Para complicar ainda mais as coisas, inúmeros cismas religiosos ocorreram (e ainda ocorrem) em ambos os lados: existem várias facções islâmicas cuja rivalidade inviabiliza cada vez mais qualquer tentativa de (re) união. Do lado do cristianismo europeu ocidental, a maior crise (e o cisma subseqüente) se iniciou com as marteladas do Dr. Martinho Lutero nas portas da Abadia de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517. A partir daí, os fiapos do antigo império romano, as chamadas “nações latinas” permaneceram em grande parte católicas, ao passo que aquelas de precedência “bárbara” voltaram-se para as confissões evangélicas. Estas últimas, por diversos motivos (entre os quais o religioso não foi o menos importante) vieram nesses cinco séculos acumulando toda a riqueza do planeta, ao passo que o mundo latino se ve cada vez mais empobrecido. Esse “atraso” para obter o almejado “estado do bem-estar” (físico/financeiro e social) vem sendo atribuído a práticas religiosas ainda no estágio medieval, com destaque, no caso de Portugal e Espanha, para a permanência da inquisição até há pouco tempo (1859). Na medida em que esse fosso foi se tornando mais profundo e largo, também foi sendo fortalecida a convicção da existência de nexo causal entre um e outro fato, a ponto desse conceito não ser mais sequer discutido. Tal fato chega a causar espanto e incredulidade, uma vez que não é mais considerado racional, por exemplo, crer-se na identificação entre heresia e higiene corporal (banho diário), no entanto comumente aceita naqueles tempos. A imagem “progressista” que tais nações transmitem choca-se, por outro lado, com robustas evidências da estúpida irracionalidade que é bastante disseminada entre seus povos Basta constatar o entusiasmo causado na população alemã pelas teses nazistas de raça superior, supremacia de mil anos, etc; ou a convicção dos americanos, há 50 anos de que os inquisidores dos tribunais de exceção do macartismo estavam salvando a pátria do inimigo; e ainda atualmente, o fervor patriótico causado pela guerra genocida à procura das imaginárias “armas de destruição em massa”). É patente também a nostalgia manifestada por grande parte da elite italiana com a “época em que os trens andavam no horário” (o fascismo de Mussolini); ou a viuvez mental de inúmeros brasileiros, suspirando pelos tempos em que os militares impunham a “ordem” e se auto proclamavam guardiões da honestidade, da moral e dos bons costumes. E nem falamos dos estados universalmente considerados campeões em conquistas sociais, onde medra, viceja e robustece, sem que as autoridades lhes ponham cobro, uma extrema direita xenófoba e violenta. Se em nosso país pagamos nossas faltas com a eterna impossibilidade de construirmos uma nação, dado o grau de pobreza, de atraso e de ignorância nos quais o povo é mantido coercitivamente, nos adiantadíssimos países cujas conquistas materiais embevecem os mais deslumbrados (mas que de outra parte mantem campos de concentração, constroem muros, impedem a imigração ou mesmo eliminam os estrangeiros “ilegais”), como serão quitadas essas contas?

domingo, 1 de março de 2009

P A R A B É N S P R A V O C Ê!!
MESMO para uma cidade, quatrocentos e quarenta e quatro anos não é pouca coisa. E estamos falando da "mui leal e sofrida" Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Poucos sítios urbanos do Mundo (as exceções devem ficar na Holanda, mas lá não vale, pois se não agem assim, o mar vem e retoma tudo) sofreram tantas mudanças em tal período de tempo. Foi um tal de derruba morro aqui, cerca e aterra o charco ali, que vou te contar! Sem precisar ir muito para trás no tempo, outro dia estava vendo umas fotos da Lagoa Rodrigo de Freitas, como o espelho de água foi reduzido!
De qualquer maneira, seja pela invencível natureza, seja pela resistência de um pugilo de homens e mulheres que brigam por ela, a Cidade Maravilhosa continua linda...
GRANDE ESTÁCIO DE SAAH!
Sujeito decidido era esse moço! Veio correndo de São Vicente, fundeou ao largo, tomou um barco com alguns homens e, no dia seguinte (1º de março de 1565) já foi logo fundando com todas as devidas pompas e aparamentos a cidade! Bem, não passava ainda de uma paliçada tosca na praia, mas valeu! Se não fosse a presteza do rapaz, os franceses, oh! (Vocês já imaginaram o sufoco que ia ser cantar samba "fazendo a boca em cone" com o pessoal do nordeste diz que é preciso para falar a língua do Villegagnon? Não ia dar certo... Aliás francês aqui nunca deu liga: já as francesas... aí tudo bem!
Coisa curiosa, falando nisso, são as coincidências, que é o que mais existe no mundo, não é: nessa cerimônia (fundamental, na época, para assegurar ao rei a posse, o domínio e o usufruto da terra) nosso herói dá ao Rio um feixe de flechas como armas: menos de dois anos após, é flechado em uma batalha contra os franceses e tamoios, morrendo dia 20 de fevereiro de 1567. Essa batalha foi travada no dia 20 de Janeiro, dia do padroeiro, São Sebastião, que teria morrido crivado de flechas!
(Fotos de Nilo Lima, "Rio das Alturas")