sexta-feira, 6 de março de 2009

F A L A N D O S É R I O

INDECÊNCIAS - Segundo o Bispo Ussher, Deus criou o mundo no dia 23 de outubro de 4004 AC. 570 anos depois do nascimento de Cristo veio ao mundo Maomé, que aglutinou as diversas tribos e nações árabes sob uma única crença: De lá para cá os mundos cristão e muçulmano entredevoram-se ritual e cotidianamente. Para complicar ainda mais as coisas, inúmeros cismas religiosos ocorreram (e ainda ocorrem) em ambos os lados: existem várias facções islâmicas cuja rivalidade inviabiliza cada vez mais qualquer tentativa de (re) união. Do lado do cristianismo europeu ocidental, a maior crise (e o cisma subseqüente) se iniciou com as marteladas do Dr. Martinho Lutero nas portas da Abadia de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517. A partir daí, os fiapos do antigo império romano, as chamadas “nações latinas” permaneceram em grande parte católicas, ao passo que aquelas de precedência “bárbara” voltaram-se para as confissões evangélicas. Estas últimas, por diversos motivos (entre os quais o religioso não foi o menos importante) vieram nesses cinco séculos acumulando toda a riqueza do planeta, ao passo que o mundo latino se ve cada vez mais empobrecido. Esse “atraso” para obter o almejado “estado do bem-estar” (físico/financeiro e social) vem sendo atribuído a práticas religiosas ainda no estágio medieval, com destaque, no caso de Portugal e Espanha, para a permanência da inquisição até há pouco tempo (1859). Na medida em que esse fosso foi se tornando mais profundo e largo, também foi sendo fortalecida a convicção da existência de nexo causal entre um e outro fato, a ponto desse conceito não ser mais sequer discutido. Tal fato chega a causar espanto e incredulidade, uma vez que não é mais considerado racional, por exemplo, crer-se na identificação entre heresia e higiene corporal (banho diário), no entanto comumente aceita naqueles tempos. A imagem “progressista” que tais nações transmitem choca-se, por outro lado, com robustas evidências da estúpida irracionalidade que é bastante disseminada entre seus povos Basta constatar o entusiasmo causado na população alemã pelas teses nazistas de raça superior, supremacia de mil anos, etc; ou a convicção dos americanos, há 50 anos de que os inquisidores dos tribunais de exceção do macartismo estavam salvando a pátria do inimigo; e ainda atualmente, o fervor patriótico causado pela guerra genocida à procura das imaginárias “armas de destruição em massa”). É patente também a nostalgia manifestada por grande parte da elite italiana com a “época em que os trens andavam no horário” (o fascismo de Mussolini); ou a viuvez mental de inúmeros brasileiros, suspirando pelos tempos em que os militares impunham a “ordem” e se auto proclamavam guardiões da honestidade, da moral e dos bons costumes. E nem falamos dos estados universalmente considerados campeões em conquistas sociais, onde medra, viceja e robustece, sem que as autoridades lhes ponham cobro, uma extrema direita xenófoba e violenta. Se em nosso país pagamos nossas faltas com a eterna impossibilidade de construirmos uma nação, dado o grau de pobreza, de atraso e de ignorância nos quais o povo é mantido coercitivamente, nos adiantadíssimos países cujas conquistas materiais embevecem os mais deslumbrados (mas que de outra parte mantem campos de concentração, constroem muros, impedem a imigração ou mesmo eliminam os estrangeiros “ilegais”), como serão quitadas essas contas?

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